• por Filipa Almeida
  • Blog

Este blog será sobretudo dedicado à flora apícola. Primeiro porque foi ela que me trouxe até às abelhas, segundo porque quem me conhece de perto sabe que é esta relação entre as plantas e as flores que me conquista diariamente a curiosidade e é seguramente a ferramenta mais poderosa que tenho na apicultura.

É importante conhecer os recursos florísticos disponíveis para as colónias, porque estes determinam não só o crescimento, desenvolvimento e produtividade das colónias, mas igualmente as características e propriedades organoléticas (aroma, cor, sabor) dos seus produtos.

Conhecer a flora na área de influência dos apiários, permite ainda estabelecer as linhas orientadoras de maneio a adotar para aproveitar eficientemente todos os recursos oferecidos pelas plantas.

O calendário de floral é um dos dados mais úteis, indicando os períodos cruciais em que podemos esperar disponibilidade de pólen para a colónia crescer e de néctar para produzir, de forma gerir a exploração da melhor forma.

A precisão de um calendário floral, e, consequentemente, o seu valor prático, depende do registo cuidadoso do início e final do período de floração das plantas, ao longo dos anos, e como elas afetam as abelhas. O calendário apresentado a seguir, reporta-se a uma das área onde trabalho, e resulta do cruzamento de dados de 3 anos de acompanhamento dos períodos de floração nas áreas de influência dos apiários, sendo por isso representativo das florações, refletindo as mudanças sazonais nos padrões de vegetação que influenciam o comportamento recolector das abelhas, e com o clima, a maneira pela qual as colónias de abelhas interagem com os recursos florísticos.

Figura 1- Calendário de floração, fontes de néctar e pólen, zona da Beira Baixa.

Os passos que considerei na construção do calendário foram os seguintes:
1 . Levantamento geral da área, num raio sensivelmente de 3km, com a elaboração de uma lista das plantas encontradas, com especial atenção para as plantas com elevado nº de flores/planta/unidade de área;

2 . Inspeção as colmeias 10-12 dias para observação das mudanças na quantidade de alimentos armazenados no interior da colmeia para verificar se estava a reduzir, estabilizar ou a aumentar (nº de quadros de cria vs número de quadros de pólen e mel);

 3 . Ao mesmo tempo que monitorizei as reservas das colmeias examinei a área, dentro do intervalo de voo das abelhas, para anotar as espécies de plantas que as abelhas visitavam, distinguindo visualmente o seu interesse por pólen e/ou néctar nessas plantas;

4 . As espécies foram diferenciadas pela frequência com que eram visitadas pelas abelhas, em relação às mudanças nas reservas. Quando se verificou aumento em resposta direta à disponibilidade das plantas visitadas, considerei essas plantas como boas fontes de alimento para criar reservas (que são as que estão mencionadas na tabela). Quando as reservas de alimentos permanecem estáveis, as plantas foram consideradas apenas importantes apenas para atender às necessidades diárias de alimentos nas colónias.

O calendário de floração anual e a monitorização das reservas (nº de quadros de mel e pólen) foram os métodos que utilizei para avaliar da aptidão da área para a apicultura e da capacidade de suporte da área (nº de colmeias/apiário).

Na figura nº1, é possível verificar a disponibilidade de pólen em simultâneo com a disponibilidade de néctar, e a forma gradual e progressiva, ilustrada pela intensidade de cor, com que fica disponível para as abelhas. Esta informação é importante porque, analisada em conjunto, permite-me saber se de facto há ou não entrada de pólen para a colónia crescer e desenvolver-se antes do fluxo principal e, se foram feitos desdobramentos, se a colmeia dispõe de néctar para puxar cera e pólen para repor a população. Não sendo uma informação a considerar isolada, dado que em campo, e à data, as decisões vão depender também das temperaturas, humidade, e previsões de tempo futuras, é sempre uma referência para preparar a colónia para o fluxo principal e tomar decisões.

Mas como se pode avaliar a aptidão e potencialidade de uma zona para apicultura antes de se colocarem colmeias? A mera presença de árvores e arbustos em números limitados, ou de alguns hectares de terra coberto com plantas boas produtoras de mel preferidas pelas abelhas, não indica necessariamente que a região tem potencial. Algumas linhas orientadoras são a presença de padrões de vegetação abundantes, constituídos por boas plantas melíferas (desde asteráceas, labiadas…), caracterizadas por períodos de floração relativamente longos, em termos de várias semanas, em diferentes períodos do ano, a grande densidade de flores secretoras de néctar por planta e unidade de área.

Por isso, quando vou ao campo, descrevo detalhadamente as plantas uma a uma. Os colegas costumam perguntar: – “Porque me falas dessas plantas? É só o rosmaninho que interessa”.

E, como não podia deixar de ser, respondo: -“Porque sem estas plantas todas não conseguirás colher mel de rosmaninho”.

BIBLIOGRAFIA:

Site de confirmação de plantas melífera-poliníferas: www.florabeilles.org/http://www.florabeilles.org/terme/calendula-arvensis

Interchanges of Insects between Agricultural and Surrounding Landscapes, editado por B.S. Ekbom,Michael E. Irwin,Y. Robert, 2000